Calvin e Haroldo

Mario Latino

Quem é que nunca leu esta tira que trata de um garoto e seu inseparável tigre de estimação? Clássica entre clássicos, Calvin e Hobbes (no original) nos remete ao mundo da fantasia infantil - que tanto queremos esquecer quando adultos - sem abandonar a discussão de problemas filosóficos profundos. Afinal, seu criador é Bill Watterson, um filósofo ele mesmo, que teimou em se tornar cartunista para nos alegrar um pouco com as sacadas do garoto infernal e seu comparsa de pele listrada num mundo que eles não reconhecem como inteiramente seu. De uma integridade a toda prova, que o levou a rejeitar fortunas em merchandising, Watterson protagonizou uma batalha quixotesca contra os donos dos meios de comunicação escrita que queriam arrancá-lhe sua criação para torná-la objeto de consumo. Bem, ele fez mais que isso ao obrigar os jornais - fato inusitado! - a modificar o formato de publicação das tiras de jornal para atender a suas necessidades criativas. E, no final, já cansado da extenuante tarefa que lhe significava criar uma tira diária num ritmo alucinante, soube reconhecer que era o momento de parar. Ficamos órfãos, é verdade, pois nenhuma das tiras que vieram depois trouxe o vigor e a aguda ironia de Calvin e Haroldo. Mas, afinal contentes, pois sabemos que, no mundo lúdico em que vivem as personagens de papel e nanquim, Calvin e seu tigre de pelúcia continuam deslizando-se em tobogãs pela floresta de maravilhosas árvores que Watterson sabia desenhar como ninguém.