Milton Caniff

Dono de um traço primoroso e com roteiros belíssimos, Caniff lutou, a sua maneira, contra as forças do Eixo.

Mário Latino

Poucos sabem, mas os desenhistas de HQ estiveram na vanguarda da luta contra o nazi-fascismo bem antes de Estados Unidos entrarem na guerra. Esta adesão manifestou-se nas tiras em quadrinhos que eram publicadas na época. Assim o Fantasma de Lee Falk, Tarzan, Capitão César e outros heróis das tiras em quadrinhos lutavam contra sabotadores alemães, desfaziam redes de espionagem e colocavam o inimigo para correr. Até personagens como Flash Gordon e o Príncipe Valente, cujas estórias transcorriam em outra dimensão temporal, passaram a enfrentar adversários cujas fisionomias lembravam às das forças do Eixo.

Entre as tiras publicadas no período, Terry e os piratas foi das melhores. Seu autor era Milton Caniff. Caniff nasceu em Ohio no ano de 1907. Em 1925 já desenhava sua primeira tira para jornais, Chic and Noodles. Mais tarde passou a desenhar Dick Dare. Nessa época conheceu outro desenhista tão talentoso quanto ele, Noel Sickles, com o qual passaria a compartilhar um estúdio.

Em 1933 Caniff foi convidado pelo Chicago Tribune-New York News Syndicate para desenhar uma história ambientada nos mares da China. Essa história era Terry e os Piratas e tinha - como eixo narrativo - as aventuras do moleque Terry acompanhado por seu tutor Pat Ryan e um criado chinês, chamado Connie. Nas primeiras tiras o desenho de Caniff ainda era ingênuo, como em Dick Dare. Aos poucos a série foi ficando mais elaborada, tanto nos roteiros como no desenho. Estavam nela os elementos exóticos de praxe e mulheres belas e misteriosas para atormentar a existência dos heróis. Uma delas era Dragon Lady, inspirada nas fêmeas fatais que Marlene Dietrich interpretara para o cinema.

Terry e os piratas com sua ambientação e trama, mistura de realidade e fantasia, com diálogos bem elaborados e capricho no traço e arte-final cativou a atenção dos leitores do mundo inteiro. Tal popularidade fez do criador da tira um dos desenhistas mais imitados da época.

Caniff é considerado até hoje o "Rembrandt dos Quadrinhos" por seu traço, técnica de desenho e linguagem cinematográfica. Célebre pelo apuro na pesquisa visual, tinha uma preocupação justificada com os roteiros que estava constantemente inovando, em uma mistura de cinema e literatura.

Seu estilo de desenho, influenciado pelo trabalho de Sickles, fundamentava-se no traço forte com pincel, nas silhuetas a contraluz e no contraste de massas negras e brancas, conforme a estética cinematográfica, da qual Caniff adotou o ponto de vista da câmara.

Mais que qualquer outra história em quadrinhos, Terry e os piratas refletiu a atitude norte-americana após Pearl Harbor. Aos poucos as aventuras de Terry e Pat deram lugar à realidade da guerra. Terry, já adulto, torna-se piloto e aparece um novo personagem, o Coronel Corkin, para tomar o lugar de Pat Ryan como conselheiro. A história muda de eixo e as façanhas individuais passam a ser eclipsadas pelo esforço coletivo. Preocupado em descrever a realidade de uma maneira justa, mas sem exagerações, Caniff esmera-se na descrição exata das armas, dos uniformes, do terreno. Tudo isso culmina com a publicação da página dominical do 17 de outubro de 1943 -a primeira história em quadrinhos a ser incluída no "Congressional Record" - o diário oficial norteamericano.


Enquanto desenhava Terry, Caniff ainda arrumou tempo para criar a tira Male Call, cujo personagem era uma formosa morena, Miss Lace, que se tornaria a preferida dos pracinhas nos campos da Europa e Asia. Em 1946, Caniff parou de desenhar Terry, partindo para a criação de um personagem próprio, que se tornaria ainda mais célebre, STEVE CANYON. Canyon era um veterano piloto da Guerra que tentava salvar da falência sua pequena empresa de transporte aéreo. Era a volta para os mundos exóticos e os personagens complexos. Com o tempo, e com o envolvimento dos Estados Unidos nas guerras de Coréia e Vietnam, Canyon voltaria à ativa. Já nos anos 70, após a humilhante derrota norte-americana, a tira passaria a abordar questões mais familiares.


Com o passar dos anos o traço de Caniff tinha perdido muito de seu vigor característico. Mesmo assim, manteve-se como um mestre até o fim de seus dias.
Caniff morreu em 1989.


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