John Romita
No
último meio século, John Romita já fez de tudo como
ilustrador. Trabalhou em publicidade, foi diretor de arte da Marvel
e desenhou praticamente todas suas personagens, de Wolverine até
o esquentado Justiceiro. Mas para a maioria dos fãs ele
será lembrado como o desenhista definitivo do Homem-Aranha.
Al
Marat
Quando
saiu da DC para trabalhar na Marvel, John Romita estava com 35 anos e
considerava que seu tempo como desenhista estava se esgotando. Stan Lee
convenceu-o de que ainda tinha fôlego para empreitadas maiores.
Como prova de que acreditava nele deixou que entintasse uma história
dos Vingadores com arte de Don Heck. No mês seguinte
Romita recebeu a incumbência de tomar conta do Demolidor,
pois Wallace Wood estava de saída.
Aprendendo
com Jack Kirby
Acostumado
como estava a fazer histórias românticas para adolescentes
babonas, o "sorridente" John Romita sentiu o baque. A suas páginas
faltava-lhe o dinamismo que, nessa época, era a marca registrada
da Marvel. E não era para menos. Jack Kirby tinha estabelecido
um padrão de leiaute composto por quadrinhos vazando um para cima
do outro com as personagens saindo das bordas limitadas das vinhetas.
E quando o Capitão América dava um soco, as linhas de ação,
os gestos do vilão e a atitude corporal do próprio herói
não deixavam lugar a dúvidas sobre o que estava acontecendo.
O leitor chegava, com sádico deleite, a sentir o soco. Pois bem,
comparado com o estilo do "Rei", John Romita ainda estava começando.
A saída foi chamar ao próprio Kirby para dá-lhe uma
mão com os leiautes. Romita relembra "Enquanto eu desenhava
Matt Murdock se trocando de roupa numa vinheta e saindo do apartamento
na seguinte, Jack fez ele sair pela janela - mesmo sem saber se tinha
escada de emergência - e pular para um poste de iluminação
e daí para o capô de um automóvel. Segundos mais tarde
o herói deslocava-se pela West Side Highway apoiado em dois carros
em alta velocidade!" Aquela foi uma lição de "timing"
que ele não esqueceria mais.
Conhecido pela sua interpretação do aracnídeo, Romita
admite que naquela época a personagem parecia-lhe esquisita demais.
Pior, não achava que fosse durar muito. "O que prova como
sou ruim para os negócios", ri.
Tempos
difíceis
John
Romita nasceu em 1930. "Eram tempos difíceis. Meu pai tinha
que sustentar cinco filhos com um salário de 20 dólares
por semana". Começou a desenhar quando tinha oito anos de
idade, inspirado nas primeiras revistas do Capitão América
e do Super-homem.
Ele tinha originalmente outros planos. Sonhava em ser o novo Norman Rockwell
(famoso ilustrador da época), mas revistas como Colliers
e The Saturday Evening Post estavam fechando suas portas. Não
havia mais espaço para a ilustração clássica.
Para sobreviver, foi trabalhar com quadrinhos. "Nessa época
os comics eram considerados lixo e nenhum desenhista que tivesse um pouco
de dignidade admitiria que trabalhava nisso".
Romita trouxe para seu trabalho nas HQ influências de sua outra
grande paixão: o cinema. "Era vidrado nos filmes do Lone Ranger,
Buck Rogers e Flash Gordon". Anos mais tarde o livro Exploring
the Film utilizou 20 páginas de Spiderman # 41
para explicar o funcionamento de alguns truques cinematográficos
como close, ângulos de câmera, visão panorâmica,
campo e contra-campo.
John Romita não esconde certo desencanto pelo fato de ter trabalhado
numa época em que se ganhava muito pouco. "Trabalhei para
a Marvel mais de 25 anos e não faturei em toda minha vida
o que alguns desenhistas ganham com uma única publicação.
Mas, a vida é assim".
Há alguns anos Todd McFarlane "revolucionou" o visual
do Homem-Aranha e Romita admite que no início sentiu-se incomodado.
"Não por uma questão de ego. Gil Kane e Ross Andru
tinham maneiras diferentes de desenhá-lo, mas continuava sendo
o Aranha, não essa montanha de músculos em posses contorcidas
que virou o padrão de hoje".
Desenhando
o Homem-Aranha
A
relação de John Romita com o Homem-Aranha durou seis anos.
"Comecei em Spiderman # 39. Steve (Ditko) já
tinha estabelecido seu estilo e fiquei com medo de que os leitores não
me aceitassem". Foram tempos duros, pois as cartas pedindo pela volta
de Ditko não paravam de chegar.
Seu primeiro trabalho foi na história em que a identidade do Duende
Verde, um mistério que já durava meses, era finalmente esclarecida.
Romita também foi responsável pela criação
da ruiva Mary Jane Watson. "Era para ser uma cabecinha oca, mas como
na vida real, as coisas acontecem de forma diferente a como planejamos.
Mary Jane trouxe alegria à vida de Peter Parker e amadureceu com
ele".
Há alguns anos Romita retornou à personagem para desenhar
o casamento do escalador de paredes com a ruiva. "Não achei
uma boa idéia. Quando Li'l Abner casou a tira foi para o
brejo. Pensei que o mesmo iria acontecer com o Homem-Aranha e, novamente,
me equivoquei".
As histórias do Homem-Aranha naqueles anos abrangeram temas polêmicos,
para a época, tais como a guerra do Vietnã e o consumo de
drogas.
Alguém
tem que morrer
Romita
também esteve envolvido na história da morte de Gwen Stacy.
"Nos reunimos Stan (Lee), Gerry Conway, Roy Thomas e eu. Stan pensava
que quem devia morrer era a tia May. Aí eu lembrei da sua importância
dentro da história. Seria ela a que amolaria Peter para que tomasse
seus remédios contra a gripe ou para lembrar que ainda não
tinha tomado suas vitaminas. Corresponderia a ela falar de responsabilidade
e de coragem e, em última instância, estaria como testemunha
física da morte do tio Ben. Decidimos então que uma das
garotas (Gwen ou Mary Jane) tinha que morrer".
Mesmo sendo Gwen a namorada do Peter, ela sempre esteve à sombra
da ruiva. "Stan dizia que eu desenhava Mary Jane mais bonita e sensual
que Gwen. Só posso dizer que via Gwen como uma menina sensível.
Nossa decisão de matá-la foi tomada em conjunto, mas os
leitores jogaram a culpa no Gerry. Chegou até ser ameaçado
de morte".
Os fãs poderão se surpreender ao saber que a personagem
predileta de John Romita é o Demolidor e não o Homem-Aranha.
A contribuição de Romita ao universo Marvel não
se limitou a estes heróis. Ele praticamente desenhou todos sendo
responsável pelo tratamento visual do Rei do Crime, Robbie Robertson,
Wolverine e o Justiceiro entre outros.
Dono de um traço deslumbrante e de um senso de composição
ímpar, Romita ocupa um lugar de destaque entre os desenhistas da
Idade de Prata das Histórias em Quadrinhos.
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