Muito antes da existência da revista MAD, Al Capp já criticava, ácidamente, os costumes da sociedade norte-americana. Mário Latino Alfred Gerald Caplin, mais tarde conhecido como Al Capp, nasceu em New Haven, Connecticut, no ano de 1909. No meio de uma família de artistas, Capp aprendeu a desenhar bem antes de aprender a ler. Seu irmão Elliot viraria, mais tarde, roteirista de histórias em quadrinhos. Aos dezenove anos Al Capp arrumou seu primeiro emprego como desenhista, desenhando a tira Colonel Gilfeather para a Associated Press. O emprego durou até que Capp foi substituído por um desenhista iniciante chamado Milton Caniff. Estando no olho da rua, Al Capp recebeu um convite de Ham Fisher -criador da famosa tira Joe Palooka - para trabalhar com ele. Pelo acordo verbal ele passaria a receber uma porcentagem em direitos autorais pelas suas contribuições, além do salário normal. E para isso não era necessário pôr sua assinatura no material. Nessas condições Capp começou a trabalhar para Fisher aumentando a, já enorme, popularidade da tira. Com o tempo descobriria que tinha sido enganado. Após sair do estúdio de Fisher, Al Capp andou de syndicate em syndicate oferecendo uma tira de sua própria criação, Li’l Abner. Finalmente as portas do United Features Syndicate se abriram para ele e a primeira tira foi publicada no dia 20 de agosto de 1934. Li’l Abner - Ferdinando no Brasil - tinha como cenário o fictício lugar de Dogpatch, nas montanhas de Kentucky. Lá viviam os Yokum. Mamãe Chulipa, a matriarca, tinha o soco mais forte da região. Lucifer, o pai, em contraste, era um tremendo frouxo. O pequeno Abner - Ferdinando - tinha o rosto de Henry Fonda, o corpanzil de John Wayne, a ingenuidade de um jumento e uma namorada de tirar o fôlego, Daisy Mãe. Enquanto a tira de Li’l Abner crescia e crescia em popularidade, Capp se viu envolvido em problemas de outra natureza. Ele nunca esquecera como Ham Fisher tinha se aproveitado de sua inexperiência. Este sentimento se transformou, com o passar dos anos, num ódio feroz. Isto ficou evidente quando, em julho de 1950, Capp colocou Li’l Abner como desenhista fantasma de um profissional inescrupuloso dos quadrinhos, Mr Happy Vermin (O Verme Feliz). Não era necessário ser muito esperto para dar nome aos bois. Ele ainda escreveu para a revista Atlantic Monthly um artigo intitulado I remember Monster. Não faltava mais nada. A resposta de Fisher, que já estava em franca decadência, foi totalmente descabida. Ele chegou a apresentar desenhos, supostamente feitos por Capp, das personagens de Li’l Abner em posições pornográficas. Houve uma investigação e se comprovou que aquilo era uma absurda falsificação. Sobrou para Fisher que, mesmo sem admitir sua culpa, viu-se expulso da National Cartoonist Association. Humilhado até os ossos, Fisher acabou se suicidando. Em pleno período da caça às bruxas promovido pelo senador Mac Carthy, Al Capp teve a coragem de criticar o sistema. Rapidamente virou o queridinho dos grupos de esquerda e dos liberais em geral. Foi então que criou, para Li’l Abner, os Shmoo, uma clara alusão ao símbolo do socialismo. Nessa história atacou, azeda e abertamente, o FBI, os republicanos e os trustes. Tudo isso numa época em que pessoas ligadas ao cinema, à literatura e artes estavam indo para a cadeia pelo simples fato de admitir ter idéias esquerdistas. Estas mesmas pessoas que adoravam sua inesgotável capacidade de criticar passaram a detestá-lo quando passou a adotar o discurso da direita. Na verdade, Capp era uma personagem controversa. Acusara Fisher de tê-lo explorado quando trabalhava como desenhista-fantasma para ele, mas isto não impediu de fazer o mesmo com outros desenhistas. Em seu estúdio desenhistas como Bob Lubbers e Frank Frazetta faziam todo o trabalho, deixando só o espaço para Capp desenhar o rosto de Abner. Estando na Europa, no primeiro congresso de quadrinhos, ridicularizou àqueles que o idolatravam num artigo para a revista Life. Muita gente começou a achar que ele era um mau caráter. Enquanto isso, suas personagens faziam tanto sucesso que viraram desenho animado nas mãos de Dave Fleisher, o mesmo que fizera Popeye e Betty Boop. Entre os leitores de suas tiras estavam personalidades do cacife de John Steinbeck e Chaplin. Steinbeck chegou a sugerir que Capp fosse indicado para o prêmio Nobel de Literatura. Em 1958 houve uma versão cinematográfica da Paramount e se cogitou o nome de Marilyn Monroe para interpretar Daisy Mãe, mas o cachê da artista era alto demais. A verdade é que Capp não respeitava nada. Em Li’l Abner fazia sátira de tudo e de todos. Até dos quadrinhos, já que Abner era apaixonado por uma tira policial, imitação de Dick Tracy, chamada Fearless Fosdick. Já no final de sua vida, Capp se viu envolvido num escândalo de sedução de menores que acabou nos tribunais Al Capp morreu em 6 de novembro de 1979, dois anos depois de ter desenhado a última tira de Li’l Abner. |
|
|