Tom Wilson

O cartunista por trás do sucesso do cartão postal mais famoso do mundo

Mário Latino

Tom Wilson é, sem dúvida, um dos poucos cartunistas capazes de combinar talento artístico com capacidade administrativa. Isto foi algo que os altos executivos de American Greetings descobriram há 37 anos, quando o contrataram. De lá para cá, Wilson passou numa carreira meteórica, de desenhista a assistente do Diretor de Arte, depois a Diretor de Arte, assistente do vice-presidente e finalmente a Vice-presidente da Área de Criação.

Aposentado no início dos anos 90, Wilson aproveitou essa oportunidade para voltar todos os seus esforços a aquela que ele considera sua mais importante criação: Ziggy. Envolvido numa série de projetos com American Greetings, Wilson ainda conserva uma sala na empresa e passa vários dias da semana dirigindo a produção de cartões postais e campanhas promocionais.

Mas não pensem que a vida foi sempre um mar de rosas para Tom Wilson. Antes ele teve que comer o pão que o diabo amassou.

Ele lembra dos dias da sua juventude, quando não tinha o dinheiro para ir da sua casa em Uniontown até o Instituto de Arte de Pittsburgh. Impossibilitado de pagar as mensalidades, teve que procurar emprego no departamento de publicidade do jornal local. Sua salvação chegou, paradoxalmente, com o recrutamento militar. “Para minha sorte, a Guerra da Coréia estava no fim e não tive que ir ao campo de batalha. Quando meu período de alistamento terminou, eu pude voltar a freqüentar as aulas do Instituto, pois as leis previam bolsas de estudo para os combatentes”.

Foi aí que, numa visita de cortesia, os executivos de American Greetings viram seus trabalhos de formatura pendurados na parede. Foi imediatamente contratado. Iniciava-se uma trajetória de sucesso.

Mesmo trabalhando a todo vapor para American Greetings, Wilson sentia a necessidade de fazer outras coisas. Era comum que depois do expediente continuasse experimentando com cartuns e criando personagens. Numa destas “sessões” apareceu Ziggy. “Uma das coisas que mais gosto das comédias do Gordo e o Magro é que, depois de Stan Laurel ter feito algo realmente estúpido, Oliver Hardy olha para os espectadores com cara de assombro. De alguma forma, tal atitude transforma a audiência em cúmplice da situação. Essa era a reação que eu queria despertar no leitor do jornal”. E Wilson estava certo. A popularidade de Ziggy foi imediata. Prova disso é que seus cartuns são publicados há quase trinta anos em mais de 20 países.

No início os editores dos “syndicates” olharam com cara feia para a personagem. “Acho que o formato em que era apresentado não lhes agradava. Eu tinha bolado uma situação em que Ziggy era um ascensorista que fazia comentários diferentes a cada quadro” Esnobado pelos “syndicates”, Wilson fez, para American Greetings, cartões postais com Ziggy. Chegou até colocá-lo nos livros editados pela companhia. Foi um destes livros, When You’re Not Around, que chamou a atenção de Jim Andrews, dono do Universal Press Syndicate. Andrews decidiu adquirir os direitos de publicação e entrou em contato com Wilson. “Pensei que era um trote quando alguém chamado Andrews telefonou para casa dizendo que gostava de Ziggy e que ia colocá-lo na mesma página de Doonesbury”, lembra Wilson. Ziggy tinha encontrado um lar.

A despeito do grande número de leitores, Wilson se considera um homem de sorte por ter encontrado seu espaço, num campo tão competitivo como o das ‘comic strips”.

Nos primeiros tempos, Ziggy não falava. Wilson atendeu ao pedido dos editores e, gradativamente, começaram a aparecer balões de pensamento. Para Wilson, que apresenta Ziggy no formato “cartun” e tiras diárias, o processo criativo é uma experiência única. “É como escrever uma peça de teatro. Você conhece o final e tem que construir uma história que se encaminhe até esse final”.

Wilson explica a filosofia que se esconde por trás da simplicidade do desenho em Ziggy. “Não é por acaso. Adoro a simplicidade e por isso gosto das esculturas esquimós. Eu queria uma personagem com a qual todo mundo se identificasse. Do jeito que está desenhado, qualquer leitor pode dizer que Ziggy é ele”.

Ziggy fez uma aparição num especial para TV em 1982. Ziggy’s Gift, dirigido pelo mesmo animador de Roger Rabitt, chegou a ganhar um Emmy, o Oscar da TV. “Fiquei feliz com o sucesso, mas não estou pensando em mais adaptações. Tive medo de que, com o tempo, outros adquirissem o controle da personagem e eu não quero isso”.

O forte de Ziggy é a venda dos cartões postais, que chega a 55 milhões por ano. Wilson, o criador, mantém controle de tudo. “Chego a fazer até a arte-final de alguns. Agora, se é necessário algum tratamento especial, como aerógrafo, então é com o departamento de arte”. Todas as idéias da equipe de redatores têm que contar com sua aprovação.

A popularidade de Ziggy é responsável pela extensa lista de produtos licenciados que vão de telefones a artigos escolares.

O Universal Press Syndicate tem publicado várias coletâneas, entre elas Ziggy’s Star Performances, que é um apanhado dos melhores trabalhos da década de oitenta.

Mas nem tudo é lucro. Ziggy, também, está envolvido em campanhas de ajuda à Leukemia Society of America, National Committee for World Food Day e ao Salvation Army.

Pode parecer estranho, mas o sonho de Tom Wilson era fazer ilustrações no melhor estilo realista para capas de revista. “É irônico, mas meu sucesso veio de algo que eu comecei a fazer para me distrair”. Mesmo não tendo conseguido realizar seu sonho, Wilson desenha e pinta sempre que tem tempo. E ele acha que todo esse trabalho mais detalhado e realista termina beneficiando seu traço de humor. “Eu sempre aconselho aos desenhistas iniciantes a adquirir muito treinamento formal, com desenho do natural, sombras e luzes, natureza morta e ambientação. Os jovens costumam pensar que isso é bobagem, mas estão errados. Para fazer um bom trabalho, o artista tem que saber como desenhar as coisas para, depois, simplificá-las”. Este mesmo espírito crítico se manifesta quando analisa as “comics strips” que são publicadas atualmente. “Muitas delas carecem dos fundamentos que garantem sua longevidade. São publicadas por um certo período, mas não tem capacidade para sobreviver”, aponta. E Wilson responsabiliza os editores por esta situação, lembrando que, no início, ninguém queria publicar as tiras de Schulz. “Sempre gostei do seu trabalho. Você lê Peanuts e sabe que aquela tira é algo que vinha do interior do artista. É essa autenticidade que garante a existência de uma tira”. Outra tira de que Wilson gostava muito era Far Side do Gary Larson. “Constantemente estou encontrando tiras de imitadores. São boas, mas ainda prefiro ler as originais”.

Nestes últimos anos, Tom Wilson passou a contar com um reforço de peso. Seu filho Tom Jr.,que também é desenhista, passou a ajudá-lo nos projetos que envolvem Ziggy. Para isso, Tom Jr, que tem três anos de estudos de arte na Universidade de Ohio e o bacharelado em Artes da Universidade de Boston, largou sua própria tira, UG, que era publicada em 80 jornais.

A ajuda familiar não para por aí. A outra filha de Wilson, Ava, trabalha com roteiros e parte dos rascunhos para as tiras diárias, enquanto Susan, a própria esposa do criador, pinta a maior parte das tiras dominicais.

É um trabalho em família e Tom Wilson não pode evitar se sentir feliz por isso. “É como construir algo que durará por muitos anos, no futuro. Ziggy é parte da família e o resultado da sua popularidade é parte do meu legado”.

E há motivos para pensar que a história de Ziggy, continuará por muito tempo. “Meu neto Miles já está desenhando Ziggy muito bem!”, avisa.


Clique aqui e saiba como adquirir sua revista GrapHiQ!


©2001-2017 GrapHiQ Brasil e Mario Latino - Todos os direitos reservados

Created and Hosted By MPG Studios