Lee Falk

A Magia de Lee Falk

Mario Latino

Aqueles leitores com certa idade lembrarão, com certeza, da época em que liam nos jornais as tiras do Fantasma e Mandrake, o Mágico. Talvez não saibam que ambas criações saíram da mente da mesma pessoa. Pois, é. O autor dessa proeza foi Lee Falk.

Nascido em St Louis, Missouri, em 1905, Lee Falk sempre teve inclinação para as letras e desde muito jovem escrevia contos, artigos e poemas. Após se graduar na Universidade de Illinois, trabalhou numa agência de publicidade como redator. Foi então que conheceu um jovem ilustrador chamado Phil Davis. Juntos criaram a tira Mandrake. Dizem as más línguas que o jovem Falk se inspirara no livro A Mandrágora. Seja como for, Mandrake trazia com ele todos os elementos do mágico de vaudeville que o escritor guardara da sua infância no Missouri.


Mandrake, o Mágico

As aventuras do mágico, sempre acompanhado de Lothar, rei de uma distante tribo africana, e da princesa Narda saíram por vez primeira no dia 11 de junho de 1934. Era distribuída pelo King Features Syndicate e, já no início, foi um sucesso.

Mandrake reunia tudo o que representava o fascínio da América dos anos 30. Seu rosto, baseado no do próprio Falk, reunia todos os traços típicos do homem de aventuras exóticas que o cinema da época tinha se encarregado de mistificar: elegante, viril, enigmático, cavalheiresco e pronto para a ação. Até a presença de Lothar, com seu enorme corpanzil negro, só tinha a finalidade de destacar Mandrake graficamente. O mágico criado por Falk e Davis enfrentava gánsteres e até seu adversário, O COBRA - um mestre das artes míticas à altura de nosso herói - com a postura de um galã de cinema. Mandrake era o glamour hollywodiano em ação.

O Primeiro Justiceiro Mascarado

Com o sucesso de Mandrake, Lee Falk tinha encontrado a galinha dos ovos de ouro. Criou, então -em colaboração com o desenhista Ray Moore - O Fantasma, um dos mais célebres e duradouros mitos das histórias em quadrinhos. Antes dele já existiam heróis justiceiros, mas aquele mascarado era o justiceiro no sentido mais puro. Ele lutava sempre em defesa dos oprimidos. Seu combate - e como combatia- era contra piratas, traficantes, a ralé da espécie humana. Antecipando em muito os heróis com malha colante, o herói trazia o rosto coberto com uma máscara, alimentando a aura de mistério que o rodeava. E, como se fosse pouco ainda estavam os cenários exóticos como o golfo de Bengala - na melhor tradição de Emilio Salgari-, a cova da caveira, os pigmeus Bandar e a lenda da imortalidade.

O Fantasma ou "espírito que anda" é imortal, é o rumor que se espalha entre as tribos vizinhas. Mas ele é o primeiro herói que pode morrer, rompendo com o costume das historias em quadrinhos. Assim descobrimos que esta é uma tradição que passa de pai para filho, através de gerações, após o juramento feito pelo sobrevivente de um ataque pirata ante a caveira do assassino do seu pai. Pelas crônicas dos Fantasmas sabemos que o atual Fantasma é o décimo-nono de uma estirpe de lutadores contra o crime.

Se não bastasse o roteiro primoroso, o desenhista Ray Moore - criador visual da historia - caprichou com seu traço misterioso, estilo filme noir, cheio de sombras sugestivas, cenas noturnas, contornos suaves e mágicos. O Fantasma, que saiu nos jornais no dia 17 de fevereiro de 1936, foi um sucesso absoluto.

O desenhista Ray Moore teve uma carreira trágica. Convocado para lutar na Segunda Guerra, foi ferido gravemente em 1942. Incapaz de voltar ao frente de batalha, também ficou impossibilitado de voltar a desenhar. Dizem que se recusou a submeter-se a uma delicada intervenção cirúrgica. Seu assistente nas tiras, Winsor Mc Coy, foi tomando conta do personagem. O que aconteceu foi que os desenhos foram se tornando mais caricatos e feios, grosseiros. Já nem lembravam a fase áurea do personagem, que só se salvava pelos excelentes roteiros de Falk. Com a morte de Mc Coy, o King Features Syndicate fez um concurso para desenhistas e entre os aspirantes se encontrava nada menos que Ray Moore. Alguns dizem que o antigo desenhista do Fantasma tinha problemas de alcoolismo. Outros falam que estava fora de ritmo para trabalhar numa tira diária. Seja como for, Moore foi rejeitado. O novo desenhista do Fantasma viria ser Seymour Barry, irmão de outro desenhista famoso, Dan Barry. Assim, desde 1962, o Fantasma começou a ser desenhado por Sy Barry (e mais tarde por uma penca de desenhistas fantasmas). Era um desenho bonito e pasteurizado, mas sem o encanto e magnetismo dos tempos de Moore.

Falk se tornou um dos roteiristas mais bem sucedidos do King Features Syndicate. Apesar de dedicar-se às duas séries - que ainda são publicadas em centenas de revistas e jornais pelo mundo - também escreveu peças de teatro, contos e livros sobre o Fantasma.

Em 1971, no Salão de Lucca, na Itália, Falk recebeu um troféu por seu significativo trabalho como roteirista. Num meio- os comics - que privilegia o trabalho dos artistas gráficos isto é, no mínimo, notável.

Falk morreu em 2001.


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