O Cavaleiro dos Quadrinhos Mario Latino Os
quadrinhos, que surgiram no final do século passado, eram predominantemente
humorísticos. Retratavam situações que o leitor médio,
semi-analfabeto e com pouco tempo, sabia reconhecer sem maiores dificuldades. Um certo Homem-Macaco Por isso, quando recebeu o convite para desenhar Tarzan ficou surpreso. Ele mesmo diz nas suas memórias: "Em 1929, veio a Depressão Econômica e, por algum tempo, o trabalho de propaganda ilustrada que eu fazia parou. Tinha algum dinheiro investido em ações e perdi quase tudo. Foi então que surgiu Joseph Neebe, que conhecia meu trabalho em publicidade. Ele queria que eu desenhasse Tarzan... Ilustrei o primeiro volume da obra daquele escritor (Burroughs), depois lançado em tiras por muitos jornais... logo Joe Neebe veio me procurar, propondo que eu fizesse Tarzan aos domingos. No início não queria aceitar. Achava que estava prostituindo minha arte, fazendo Tarzan como uma verdadeira página de quadrinhos. Então, me dei conta que estávamos na Depressão, tinha uma família para sustentar e passávamos dificuldades. Assim fiz a página dominical de Tarzan de 1931 a 1937. O trabalho, a princípio, me desagradava, mas à medida que comecei a receber cartas de admiradores mudei minha idéia a respeito dos quadrinhos..."
O trabalho que Foster fez em Tarzan foi pioneiro em vários sentidos. Como desenhista, tinha liberdade para modificar o roteiro. Negou-se rotundamente a fazer gigantescos gorilas de mais de trezentos quilos balançando-se em frágeis galhos. Mas seu maior mérito foi emprestar técnicas da narrativa cinematográfica. Ele foi o primeiro desenhista de histórias em quadrinhos que utilizou planos, ângulo de câmera, campo e contra-campo. Seu desenho, extremamente realista e vigoroso, deu às histórias uma autenticidade fortalecida pela exaustiva pesquisa de ambientes, vestuário e costumes. Antes dele, ninguém nos quadrinhos tinha feito algo parecido. Em HISTORY OF COMICS, James Steranko diz de Foster: "... desenvolveu um tratamento que consistia em abundantes long-shots que mostravam a figura hercúlea de Tarzan em sua melhor forma. Ele percebera que a popularidade do homem-macaco repousava no físico, não no metafísico. Todos os heróis de tiras receberiam igual tratamento. Os balões eram outro caso. Foster procedia com eles a seu próprio modo. Não querendo submeter suas ilustrações à área negativa criada pelo balão de palavras, eliminou-o, e inseriu o texto num espaço aberto dentro do quadrinho. O novo aspecto foi de excepcional bom gosto, mas o bom gosto era um elemento marginal nas histórias em quadrinhos, onde a ostentação era a regra." O Príncipe Valente Enquanto Foster
desenhava belas páginas dominicais para o United Feature Syndicate,
aumentava o número de leitores da história. Um deles era
William Randolph Hearst, dono do King Features Syndicates, que
o chamou para trabalhar com ele. Na proposta de Hearst, o syndicate criaria
um personagem exclusivo para Foster. A primeira página dessa história apareceu nos jornais no dia 13 de fevereiro de 1937 e narra as aventuras do herdeiro do destronado rei da fictícia Tule, na corte do Rei Arthur. O roteiro, primoroso, envolvente e extremamente bem equilibrado nos leva de um canto a outro da Europa Medieval, enquanto o herói e seus amigos enfrentam fantásticos perigos e cantam ao amor entre brigas de taverna e batalhas infernais. Sendo Príncipe Valente uma história medieval, o trabalho de pesquisa - vestuário, armas, modo de vida, castelos, regras de conduta e organização da Cavalaria Andante - era cansativa. Chegava a exigir até 50 horas de trabalho semanal para fazer uma única prancha dominical. Como em Tarzan, Foster dispensou o uso do balão, para tornar suas narrativas mais limpas, com cenários cuidadosamente elaborados e com uma cronologia quase exata dos personagens. Príncipe
Valente foi um sucesso desde o início, sendo publicada em infinidade
de jornais, além de ser traduzida para o francês, italiano,
espanhol, alemão e português. As histórias foram recopiladas
pela Hasting House em 7 volumes. Até houve um filme adaptando
suas aventuras com o canastrão Robert Wagner no papel-título. Em
1971, com mais de 1700 pranchas no seu haver, Foster achou que estava
na hora do retiro. Assim, passou o controle da história para John
Collen Murphy, desenhista de Big Ben Bolt. Murphy começou
fazendo um trabalho à altura, mas com o passar dos anos a qualidade
da história decaiu bastante, até ser cancelada nos anos
80.
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