Frank Frazetta, o mago
da ilustração fantástica
Quando
falamos de ilustração fantástica,
Frank Frazetta é uma referência mais que obrigatória.
Mário
Latino
Poucos
artistas conseguiram atingir o grau de soberbia vitalidade e energia que
este nova-iorquino soube colocar em seus trabalhos. Mais ainda, ele influenciou
a todos os grandes ilustradores das últimas décadas, gente
como Boris Vallejo, Luis Bermejo, Joe Jusko, Royo, Redondo, Shulz e Norem.
Não é pouca coisa.
Foi
com as capas feitas para a revista Famous Funnies, lá
pelos anos 50, que Frazetta começou a impor o padrão estético
que viria a ser sua marca registrada. Mas, antes disso, ele já
tinha feito o percurso comum dos desenhistas de histórias em quadrinhos.
Pelo
que se sabe, Frazetta desenhava desde criança. Seu treinamento
“formal” começou aos 8 anos, no ateliê dum italiano
chamado Michael Falanga. Na “escolinha” os garotos adquiriam
noções básicas de pintura, retrato e escultura em
argila. Eram horas e horas estudando o Davi de Michelângelo ou a
Vênus de Milo. Apesar de todo esse banho de cultura artística,
Frank só estava interessado em fazer quadrinhos. Era aí
que o dinheiro rolava e gente como Al Capp e Milton Caniff podiam comprová-lo.
Suas
primeiras influências na arte seqüencial foram Hal Foster,
Elsie Segar e Jack Kirby. Nessa época foi trabalhar a Standard
Publications. Aí, o diretor de arte Ralph Mayo, emprestou-lhe
dois livros de anatomia para que corrigisse algumas deficiências.
Frazetta foi para casa e entusiasmado estudou todo o material numa noite!
A partir desse dia seu trabalho cresceu em qualidade. Tanto que a Standard
encarregou-lhe a história Dan Brand & Tippy. Enquanto
muitos artistas sofrem para descobrir os segredos da arte seqüencial,
Frank parecia ter nascido com aquelas habilidades. Seu domínio
da perspectiva e da composição era assustador. Desenhava
tendo como único elemento de apoio a própria imaginação,
quando a norma era procurar elementos de referência.
Após
Dan Brand & Tippy, Frazetta mudou-se para a EC,
onde fez capas para Famous Funnies e Weird Science Fantasy.
Em 1952 mudou-se para o Mc Naught Syndicate onde desenhou
a tira Johnny Comet, que foi cancelada um ano depois. Após
a desastrada experiência com Johnny Comet, Frank foi trabalhar
no estúdio de Al Capp. Por um salário de 500 dólares
semanais ele passou 9 anos desenhando a página dominical de Li’l
Abner. O acordo terminou quando Capp, um déspota com seus desenhistas,
decidiu arbitrariamente reduzir-lhe o salário. E aí começou
o drama.
Embora
estivesse trabalhando para o mercado de quadrinhos, Frazetta como artista
estava sumido. E, pior, após de anos desenhando, tinha esquecido
como arte-finalizar. Tentando recuperar seu espaço procurou o pessoal
da DC, MAD, e EC, sem resultados. George Evans foi o único a dá-lhe
trabalho. Mais tarde, Harvey Kurtzman encomendou-lhe alguns trabalhos
de Annie Fanny. Foi então que um pôster de Ringo
Starr, feito por encomenda para a MAD, chamou a atenção
do pessoal do estúdio cinematográfico United Artist.
Seu primeiro trabalho para eles foi o pôster do filme What’s
New, Pussycat? Repentinamente, Frazetta se viu com mais serviço
do que podia dar conta. E em cada trabalho para United Artist
ele ganhava mais que em um ano fazendo quadrinhos!
Em 1964, Frazetta conheceu Jim Warren, dono e diretor do magazine Creepy.
Pelo acordo com Warren, ele teria total liberdade artística. Foi
então que ele fez Sea Witch, Egyptian Queen e
Vampirella.O pagamento era uma mixaria, mas Frazetta estava à
vontade. O acordo durou até 1972, quando Creepy faliu.
Nos anos seguintes, Frazetta se afastou dos quadrinhos e passou a expor
suas pinturas. Fez trabalhos de ilustração por encomenda
e ganhou muito dinheiro.
Em 1986 teve problemas hormonais relacionados com a tiróide. Perdeu
a vontade de viver e de desenhar. Seu peso corporal de 76 quilos foi para
60. O calvário durou 8 anos nos quais Frazetta perambulava de clínica
em clínica procurando uma cura para a doença. Finalmente,
voltou a ser uma pessoa normal. Voltou à prancheta de desenho.
Conhecido
pelo enorme talento no desenho da figura humana, Frazetta tem um conceito
de força que foge ao padrão estético dos desenhistas
contemporâneos. Para ele, a força reside nas coxas, nas nádegas,
no tronco quadrado (não triangular), nos tríceps e nos antebraços.
E é fácil entender tal conceito quando vemos os homens desenhados
por ele, transmitindo uma sensação de força e potência
explosiva que dificilmente o ‘marvel style’ conseguiria.
No desenho das formas femininas, Frazetta prefere mulheres carnudas e
voluptuosas, mais para Marilyn Monroe que para Cindy Crawford. “É
esse tipo de mulher que mexe com nossas fantasias”.
E
na hora de trabalhar uma ilustração, ele começa pelo
cenário. Só depois é que encaixa a figura humana
dentro dele. Assim o desenho fica mais realista, com a personagem num
cenário e não ao contrário, com o cenário
acompanhando a personagem. Podem parecer detalhes insignificantes do afazer
de um artista, mas quando vemos seu trabalho e o comparamos com o de outros,
hoje com mais fama que ele, entendemos que a qualidade se consegue com
esses pequenos detalhes.
 |
A
Rainha Egípcia (The Egyptian Queen)
Esta
ilustração é um bom exemplo de como Frazetta
trabalha temas românticos conseguindo imprimir a eles sua
própria visão do mundo. Abandonando o padrão
neo-clássico de figuras estáticas e lânguidas,
o artista escolheu um momento dramático. Já de cara,
é a rainha -uma voluptuosa mulher de seios fartos e barriguinha
sensual -apoiada no pilar, que rouba nossa atenção.
O leopardo, intimidante, e o homem da espada - provavelmente um
eunuco -sugerem a tensão do momento.
Frazetta
teve algumas dificuldades quando realizou este trabalho que foi
capa da revista Eerie # 23. A primeira versão dele
apresentava a rainha com um olhar de medo, mas Frazetta não
gostou do resultado. Finalmente, o ‘mestre’ conseguiu
dar à rainha uma expressão sutil em que se misturam
a altivez, a dignidade e medo que começa a aflorar. É,
sem dúvida, uma ilustração de enorme impacto
emocional. |
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A
Caçadora (The Huntress)
A
Caçadora explica porque Frazetta é um ilustrador de
fama mundial. Neste trabalho estão seus elementos preferidos:
voluptuosas mulheres e felinos selvagens. Só que as mulheres
que ele desenha não têm nada a ver com as fêmeas
magérrimas que povoam os pin-ups hoje em dia. Elas são
estonteantes, incomparáveis, selvagens. Ao pintar os tigres
dentes-de-sabre, o artista se preocupou em retratar a energia vital
dos felinos, a suavidade de seus movimentos e o potencial para rápida
ação violenta.
A
caçadora, originalmente feita para ilustrar um livro de Edgar
Rice Burroughs, teve várias etapas. Uma primeira versão
mostrava-a com os tigres enquanto olhavam para um pterodáctilo
avançando sobre eles. Outro rascunho mostrava dois tigres
descansando num primeiro plano enquanto um terceiro rugia ao fundo.
Houve outro sketch mostrando a caçadora de costas, mas Frazetta
abandonou a idéia por considerá-la provocante demais.
Na versão final, ele decidiu eliminar todos os detalhes do
cenário, concentrando-se nas expressões. Após
de olhar para a ilustração, o leitor fica em dúvida.
Estão os tigres atacando ou se defendendo? Mais, ambos tigres
são metáforas criativas, uma opinião de Frazetta
sobre a natureza feminina.
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