Chester Gould

A história do criador de Dick Tracy, o primeiro tira durão das histórias em quadrinhos.

Mario Latino

“As histórias em quadrinhos de Dick Tracy superam, em muito, os melhores filmes policiais norte-americanos de todos os tempos...” (Federico Fellini)

Chester Gould nasceu em Pawnee, Oklahoma, no dia 20 de novembro de 1900. Estava destinado a ser advogado, mas a mão misteriosa do destino o arrastou para o mundo encantado das histórias em quadrinhos.

Após terminar o curso de direito no Oklahoma College, foi procurar trabalho como cartunista no Chicago American - jornal que pertencia à família Hearst. Era o ano de 1923 e sua primeira tentativa, uma tira em quadrinhos chamada Fillum Fables, não teve o sucesso esperado.

Em 1931 Gould mostrou ao editor do Chicago Tribune as primeiras tiras de uma história policial, cujo protagonista atendia pelo estranho nome de Plainclothes Tracy. Por sugestão do editor a tira foi rebatizada como Dick Tracy e assim começou a ser publicada já no dia 4 de outubro de 1931 na página dominical. Duas semanas mais tarde, graças ao sucesso de público, Dick Tracy virou tira diária. Com o tempo chegou a ser publicada em mais de 800 jornais pelo mundo afora. Estimativas conservadoras estimam que mais de 150 milhões de leitores já leram as aventuras daquele que estava destinado a ser o tira mais durão das tiras em quadrinhos.

Para entender o sucesso de Dick Tracy é necessário viajar no tempo até a Chicago convulso do ano de 1931. O gansterismo organizado desafiava ao poder constituído, enquanto àqueles que deveriam representá-los e defendê-los estavam na folha de pagamento de Capone e outros chefes do submundo. O público exigia uma força policial que fosse incorruptível e soubesse responder à violência com violência. As histórias de Dick Tracy foram ao encontro dessa vontade popular.

Tracy representava a mão da sociedade punindo todo o que era corrupto e ilegal e, com ele, o sangue e a violência entraram de cabeça nas tiras em quadrinhos. E, como na vida real, as balas matavam e mutilavam de verdade. O próprio protagonista chegou a ser vítima dessa violência inúmeras vezes. Uma curiosa estatística levantada por Herb Galewitz na década de 60 revela que, em seus primeiros 30 anos de publicação em jornais, Tracy foi ferido 27 vezes por armas de fogo. Além disso sofreu inúmeras contusões e costelas quebradas, chegando a ficar num pulmão de aço por três messes enquanto os leitores prendiam a respiração.

Chester Gould dedicou-se de corpo e alma à sua criação até se aposentar em 1977. Para dar autenticidade às histórias chegou a passar longas horas pesquisando procedimentos nas delegacias policiais de Chicago. Da mesma forma, visitava os laboratórios da Northwestern University familiarizando-se com os avanços da ciência e a tecnologia.

Tracy foi parar no cinema em várias oportunidades. A primeira delas foi em 1931 quando a RKO realizou uma série de filmes. Mais tarde. em 1951, Ralph Birdy incorporou o detetive num programa radiofônico e numa série para tv. Mais recentemente, em 1989, Warren Beatty dirigiu e estrelou um filme em que estrelavam figurões como James Caan, Dustin Hoffman e Al Pacino. Nem assim conseguiu chegar perto do tira durão idealizado por Gould nos anos 30. Com a morte de seu criador, Dick Tracy passou às mãos de outros artistas e, pasmem, continua sendo um sucesso.



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